segunda-feira, 20 de abril de 2009

Mitos e lendas

Negrinho do Pastoreio

Negrinho do Pastoreio

Mitos e Lendas do RS
Antonio Augusto Fagundes

No tempo dos escravos, havia um estancieiro muito ruim, que levava tudo por diante, a grito e a relho. Naqueles fins de mundo, fazia o que bem entendia, sem dar satisfação a ninguém.

Entre os escravos da estância, havia um negrinho, encarregado do pastoreio de alguns animais, coisa muito comum nos tempos em que os campos de estância não conheciam cerca de arame; quando muito alguma cerca de pedra erguida pelos próprios escravos, que não podiam ficar parados, para não pensar bobagem... No mais, os limites dos campos eram aqueles colocados por Deus Nosso Senhor: rios, cerros, lagoas.

Pois de uma feita o pobre negrinho, que já vivia as maiores judiarias às mãos do patrão, perdeu um animal no pastoreio. Prá quê! Apanhou uma barbaridade atado a um palanque e depois, cai-caindo, ainda foi mandado procurar o animal extraviado. Como a noite vinha chegando, ele agarrou um toquinho de vela e uns avios de fogo, com fumo e tudo e saiu campeando. Mas nada! O toquinho acabou, o dia veio chegando e ele teve que voltar para a estância.

Então foi outra vez atado ao palanque e desta vez apanhou tanto que morreu, ou pareceu morrer. Vai daí, o patrão mandou abrir a "panela" de um formigueiro e atirar lá dentro, de qualquer jeito, o pequeno corpo do negrinho, todo lanhado de laçaço e banhando em sangue.

No outro dia, o patrão foi com a peonada e os escravos ver o formigueiro. Qual não é a sua surpresa ao ver o negrinho do pastoreio vivo e contente, ao lado do animal perdido.

Desde aí o Negrinho do Pastoreio ficou sendo o achador das coisas extraviadas. E não cobra muito: basta acender um toquinho de vela ou atirar num cano qualquer naco de fumo.

Um comentário:

  1. Amigo Marcos...
    1. Quando eu tinha uns 6 ou 7 anos de idade fui até a biblioteca municipal Monteiro Lobato em São Bernardo do Campo, que tem um jardim de livros e Paineiras! Lá me deparei com essa preciosidade da cultura interiorana chamada "Negrinho do pastoreio";
    2. Tomei de um amargor ferrenho. Pus-me ao lado do menino. Já aflorava em mim o defensor dos direitos humanos desde tenra idade. Primeiro visualizei aquilo como um crime contra a humanidade, crime de racismo + crime contra criança e adolescente; depois analisei uma outra questão importante: era um espírito o negrinho que sorria ao lado do cavalo... nas lendas Brasil a dentro vamos ver vários casos que nos remetem a entidades, seres de outros planos, seres fantasmagóricos, ou mesmo desencarnados... eu só tinha aquela idade!
    3. Esse texto lendário se utilizado como forma didática por quem possa discutir o racismo e elementos do imaginário, crença, e espiritualidade do povo brasileiro... tornam-se fonte de pesquisa fantástica e auxiliam criar seres humanos mais humildes, serenos, cultos, desapegados, e libertos!
    4. Em última análise, os negros foram importantes para história do Rio Grande e deste Brasil sem fronteiras, e continua sendo em sua expressão e resistência...
    5. Saudações Fraternas,
    William Wollinger Brenuvida

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