O Início da Conquista
A Questão Social
A extensa região do Contestado era um verdadeiro paraíso ecológico, secularmente preservada em sua natureza, graças às enormes dificuldades que impunha para penetração do homem branco. As matas muito densas e os escarpados contrafortes serranos eram sérios obstáculos à ocupação, que atraia os portugueses pelo leste e os espanhóis do lado oeste.
Aos poucos, porém, tropeiros, aventureiros e até mesmo homiziados políticos começaram a mesclar-se com os indígenas que habitavam a riquíssima região, em plena harmonia com as matas seculares, os rios de águas límpidas, a fauna variada e numerosa, os frutos e o mel abundantes.
A presença do homem branco foi registrada pela primeira vez dentro de seus limites no ano de 1641. Da sua chegada, da mistura de raças que se encontravam para conviver, surgiu o chamado caboclo pardo, a quem caberia, mais tarde, garantir ao Brasil 30.600 quilômetros de extensão territorial. Essa área, maior que o Estado de Alagoas, foi disputada em litígio internacional com a Argentina e, pela ocupação e posse do nosso caboclo, além da decidida atuação do Visconde do Rio Branco, continuou sendo brasileira.
A divulgação da conquista do território do Contestado motivou a corrida dos chamados coronéis de fazenda à região. Eles passaram a adquirir títulos de posse da Guarda Nacional. Com capangas, agrimensores e recursos materiais considerados modernos à época, os coronéis invadiam os sertões expulsavam de suas terras os primeiros povoadores.
A nova estrutura fundiária determinou o surgimento de uma situação até então desconhecida para o caboclo. Aquele que proporcionou a conquista do território ao país viu suas terras serem arrebatadas pela ganância dos que pretendiam explora-las indiscriminadamente, voltando-se de modo especial para suas maiores riquezas – a madeira e a erva-mate, cultura esta considerada o “Ouro Verde”.
Para agravar ainda mais a situação, o Governo Federal, por questão de segurança e para facilitar o escoamento da produção, determinou a construção de uma ferrovia ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul. Foram aliciados 10 mil operários desqualificados em diversas regiões do país, inclusive presos, trazidos em regime de quase escravidão pelas companhias estrangeiras encarregadas da construção da estrada, com promessas de enriquecimento rápido que nunca seriam cumpridas.
A concessão de faixas de 15 quilômetros, a cada lado do leito da ferrovia, às construtoras estrangeiras agravou ainda mais a situação dos habitantes da região, ampliando o esbulho de suas terras। A questão social tornava-se, em conseqüência, cada vez mais tensa.
Os Monges
A Cidade Santa
A população do Contestado estava desassistida, entregue à sua própria sorte, sem ter sequer escolas e hospitais. Tais condições criaram um clima propicio para a influencia dos monges que peregrinavam pela região, defendendo a necessidade de justiça social, difundindo mensagens religiosas e políticas e doutrinando, com ampla receptividade entre os sertanejos.
O primeiro monge aparece em 1844. João Maria D`Agostini, foi considerado santo por suas capacidades como curandeiro e mensageiro espiritual. O segundo, João Maria de Jesus, já no final do século XIX, exerceu uma nova influencia sobre a população, por seu engajamento político à revolução Federalista deflagrada no sul.
O terceiro, José Maria, surge no principio deste século, quando as tensões estavam ainda mais agravadas na região. José Maria assumiu o caráter guerreiro, mobilizando a população em defesa de seus direitos e organizando as comunidades para o conflito que se estendeu de 1912 a 1916.
Perdendo suas terras e sofrendo a crescente pressão das oligarquias que se estabeleciam, a gente da região começava então uma dura e prolongada guerra.
Foi a luta do sertanejo contra a força estabelecida que mobilizou quase a totalidade dos contingentes militares nacionais, justificou 13 expedições e cerca de 20 mil vitimas, bem como o emprego, pela primeira vez, de aviões em missões militares no Brasil.
O monge José Maria e o povo que o seguia estavam acampados no município de Curitibanos. A imagem do fanatismo religioso justificava a perseguição, entremeada à questão do litígio entre Santa Catarina e Paraná. Foram expulsos e seguiram para os campos do Irani.
Em outubro de 1912 tropas paranaenses travaram o primeiro combate da luta do Contestado, contra a população sitiada em Irani. Morrem José Maria e o Coronal Gualberto, chefe da milícia dizimada, da qual o povo tomou as armas.
A situação havia se radicalizado com o derramamento de sangue. Surgem fanáticos como Eusébio e sua neta Teodora, pregando a ressurreição dos monges. O reagrupamento se dá em Taquaruçú, novamente no município de Curitibanos. A construção da cidade santa é noticia entre os sertanejos e também nos meios políticos e militares.
Em Taquaruçú o povo convive dentro de princípios socialistas, procurando lutar por seus direitos. Mas é visto como ameaça à segurança, em razão das idéias difundidas sobre seu fanatismo religioso e até por mal interpretados sentimentos monarquistas – depois vistos como um simples repúdio à perseguição que lhe moviam tropas federais sob as ordens dos governos republicanos.
O fanatismo, no entanto, está ligado à causa sertaneja, que só vê possibilidades de dias melhores com a intervenção divina. O que justifica a Confraria do Menino Deus e dos Pares de França, como expressões de lideranças na defesa da população perseguida.
Grande episódio de nossa história! A guerra do Contestado é marca dessa gente cabocla que ousou combater o capitalismo mercantil!
ResponderExcluirParabéns pelo post!