sábado, 15 de agosto de 2009

O Agronegócio Catarinense

Segundo informacoes do Instituto de Planejamento e Economia Agricola de SC (CEPA), da Epagri, nesta segunda-feira (15), o agronegocio catarinense exportou ate julho 2005 US$ 1,85 bilhao (FOB). Este valor corresponde a 58,9% de todas as exportacoes catarinenses no periodo. Dentre os itens que mais contribuiram para este montante estao: carne de aves (US$ 590,9 milhoes), madeira e obras de madeira (US$ 313,2 milhoes), carne suina (US$ 299,7 milhoes), moveis de madeira (US$ 254,9 milhoes), fumo (US$ 113,3 milhoes) e papel e papelao (US$ 101,4 milhoes).

Quando comparado com o mesmo periodo de 2004 (janeiro a julho), pode-se verificar que houve acrescimos de 22,6% no total exportado pelo agronegocio e de 20,8% no total geral exportado por Santa Catarina.

O Estado deteve 8,6% das exportacoes do agronegocio do Brasil e 4,9% das exportacoes totais do pais. Estes numeros indicam, mais uma vez, a importancia que o setor representa para a economia catarinense.

Analisando-se em detalhe os blocos de produtos, a producao animal e de seus derivados e a que tem maior participacao relativa nas exportacoes catarinenses, ou seja, Santa Catarina foi responsavel por 19,3% das exportacoes brasileiras deste item. A industria da madeira, papel e papelao e a segunda em ordem de importancia relativa em Santa Catarina, respondendo por 16,3% das exportacoes nacionais para este item.

Quanto as importacoes, o estado importou ate julho US$ 1,10 bilhao (FOB). Deste total, US$ 191,5 milhoes (17,3%) sao de produtos do agronegocio. Dai, conclui-se que o estado e superavitario em sua balanca comercial (exporta mais do que importa), e sobretudo em sua balanca comercial de produtos do agronegocio, os quais sao os principais responsaveis por este superavit na balanca comercial catarinense.

O Brasil importou neste ano (ate julho) US$ 40 bilhoes, e deste total, apenas US$ 2,4 bilhoes tiveram origem no agronegocio.

Fonte: Empresa de Pesquisa Agropecuaria e Extensao Rural de SC SA

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Boi de Mamão Catarinense

A brincadeira do Boi existe no folclore brasileiro com diversos nomes: bumba-meu-boi, boi-bumbá, boi-de-reis, boizinho, boi-da-cara-preta, boi-pintadinho, etc. Conta-se que certa vez, em Santa Catarina, com pressa de se fazer uma cabeça para um boi de pano, foi usado um mamão verde, o que levou a denominar-se desde então de boi-de-mamão. Mas há quem contrarie essa versão dizendo vir o nome boi-mamão do boi que mana.

DO BUMBA-MEU-BOI À BOI-DE-MAMÃO

Apesar dos muitos estudos sobre o assunto, ainda existem dúvidas sobre o surgimento da primeira brincadeira do boi na ilha de Santa Catarina. Acredita-se que tenham sido os nordestinos que fizeram sua transposição para a ilha. Mas Câmara Cascudo registra no Dicionário do Folclore Brasileiro: "Houve também na Espanha e Portugal os touros tingidos, feitos de vime e bambu, um arcabouço de madeira frágil e leve, recoberto de pano, animado por um homem no seu bojo, dançando e pulando para afastar o povo e mesmo desfilando diante dos Reis."

O primeiro registro em Santa Catarina desta folia é de 1871, contada por José Boiteux, em seu livro “Águas Passadas”, onde descreveu uma dança realizada em Desterro (antigo nome de Florianópolis). Antigamente a brincadeira era conhecida como “Boi de Pano”, mas com a pressa de se fazer à cabeça foi utilizado um mamão verde para fazer a cabeça do boi, daí seu nome atual.

Entretanto, em 1840, em Pernambuco, o padre Lopes Gama registrava, no periódico de sua propriedade, "O Carapuceiro", a presença de certo folguedo dizendo:

"De quantos recreios, folganças e desenfados populares há nesse nosso Pernambuco, eu não conheço um tão tolo, tão estúpido e destituído de graça como o, aliás, conhecido Bumba-meu-boi. Em tal brinco não se encontra um enredo, uma verossimilhança, nem ligação; é um agregado de disparates. Um negro metido debaixo de uma baieta é o boi; um capadócio enfiado pelo fundo de um panacu velho, chama-se o cavalo-marinho". E o padre Lopes da Gama continuava verberando os seus impropérios contra o tal bumba-meu-boi, que ele vai descrevendo nos mínimos detalhes...


Com esse registro e a notícia de José Boiteux há uma diferença de 31 anos. Considerando-se a precariedade das comunicações dessa época, podemos concluir que realmente foram os portugueses que transpuseram para a ilha do Desterro o bumba-meu-boi, dando razão a Câmara Cascudo.

No município de Laguna, o pesquisador Rubem Ulysséa encontrou dentre os personagens do Boi-de-mamão, o Mateus que dança acompanhado da Mãe Catarina, sua mulher. É bom lembrar, que no bumba-meu-boi do Nordeste existe a figura de uma mulher chamada Catirina, uma razão a mais para se acreditar que antes de ser boi-mamão, era realmente bumba-meu-boi.


Doralécio Soares, em suas pesquisas de campo, encontrou em 1968, em Jaguará do Sul, um bumba-meu-boi onde quase todas as figuras se apresentavam em duplas. Dois bois, dois cavalos-marinhos, duas bernúncias, dois cabritos, duas onças, macacos, casal de vovôs, Satanás, casal de dongola (galinha), casal de Mariola, Nhô Bastião, Nhô Zaru, Sarará, Bicho Sugão, bruxas e outros. Também encontrou a seguinte cantoria:


"O meu boi morreu

O que será de mim

Vamos buscar outro, ó maninha

Lá no Piauí".


Esse é um verso encontrado no bumba-meu-boi do Nordeste, dando claras evidências que a brincadeira chegou à Santa Catarina trazida na bagagem dos nordestinos, até que surgiu a versão catarinense.


Do Bumba-meu-boi ou boi-de-pano para o boi-de-mamão, não se sabe ao certo o ano em que houve a mudança do nome, mas que aconteceu, isso não se discute. Mas, não só o nome mudou, como também houve a introdução de novas figuras. Essas são as mais diversas, procurando os criadores sempre embelezar o auto das apresentações.


O BOI DE MAMÃO VERDE


O Boi-de-Mamão é hoje, uma das manifestações mais populares do litoral Catarinense, revela em sua manifestação um auto dramático, encenado com alegre coreografia e ao som de uma cantoria contagiante que encanta e envolve crianças e adultos. É uma versão catarinense dos folguedos do bumba-meu-boi tão conhecido no Norte e Nordeste do Brasil.


O auto popular do "Boi-de-mamão" nos lugares onde predominam os descendentes lusos, os chamados descendentes italianos ou de teutos, de brasileiros ou caboclos, ou, onde o estrangeiro aquelas festividades próprias do luso ou do seu descendente. O boi sempre foi festejado por ser uma importante figura como força de trabalho para os engenhos e para os transportes.


Quanto à época da sua realização há variantes, em que se enquadram todas dentro do período que vai do Natal ao Carnaval.


Em algumas localidades, como na colônia Maria Luíza, foram incorporadas á festa do boi catarinense as danças do pau-de-fitas e das balainhas, para introduzir o folguedo, antes da presença do boi.

A história do auto conta o drama do boi que fica doente, morre e é ressuscitado, para a alegria dos participantes. Ela se divide em cenas, cada qual com música, letra e seu personagem central próprio.


HISTÓRIA DA ORIGEM DO NOME


A história do Boi-de-Mamão iniciou-se quando um menino foi até a venda comprar bolacha e biscoitos para sua mãe tomar café às 6 horas da tarde.


Outro menino, um vizinho, enquanto isso, preparou um mamão maduro bem grande, fez dois furos, amarrou um cordão no pé do mamão e acendeu um pedacinho de vela dentro da fruta. E, quando o outro menino ia passando com o biscoito e a bolacha, ele puxou o cordão, dando um enorme susto no garoto, que jogou para o alto suas compras e saiu em disparada. Entrou em sua casa, gritando como louco:

-"Um boi de mamão, um boi de mamão!...."


A mãe, sem saber do acontecido e com pena do filho, foi até a vizinha pedir uma explicação. Essa não tardou em explicar que:


-"Foi o meu menino que pegou um mamão bem maduro, bem vermelho por dentro, fez dois furos, acendeu uma vela dentro dele e pregou o maior susto em seu filho".


Nesse momento, os dois meninos passaram a brigar, mas as mães conseguiram separá-los, prometendo realizar um outro tipo de brincadeira de Boi. Costuraram um Boi de pano que levou o nome de Boi-de-Mamão. Um dos meninos era o vaqueiro e o outro brincava vestindo a roupa do Boi.


Em seguida, atraído pelas risadas da brincadeira, chegou mais um menino que quis participar. Ficou sendo o Mateus. Chega então uma menina, que acabou assumindo a personagem Maricota. Mas daí, foram se chegando outros meninos da comunidade. Um brincou debaixo da fantasia de urubu, que deve beliscar o boi quando ele morre. Outro vestiu o cavalinho, que deveria laçar o Boi e, foi assim que nasceu essa maravilhosa e alegre brincadeira que ainda hoje, percorre cantos e recantos, desdobrando-se em diferentes espaços, ocupando as mais variadas caras e jeitos.


RENASCENDO À CADA ANO


O Boi-de-Mamão é uma brincadeira muito popular, que continua sendo realizada anualmente. O Boi já morreu e renasceu em muitos momentos históricos, mas não devemos nos esquecer, que ele renasce sempre nas mãos das pessoas, que vêm carregadas de seus desejos.

Esse Boi exige, some, reaparece, se curva, vai brincando com a vida e alegrando os corações de crianças e adultos.

O Boi-de-Mamão que está ainda por aí, é um boi brincante que nos ensina que todos podemos ter esperanças de dias melhores.

Ele é um Boi para ser sentido, olhado, mas também para ser vivido.


FIGURANTES e EVOLUÇÃO DO FOLGUEDO


Entre os figurantes do auto temos:

O "vaqueiro", chefe do bando, que é assim denominado no Vargedo, em outros lugares é conhecido como "Chamador", ou ainda por "Mateus". Ele vai sempre a frente, tendo à mão um bordão para chamar o "boizinho". Nas cidades de Joinville e Florianópolis o Mateus é uma espécie de palhaço que utiliza máscara e ajuda o médico a salvar o boi. Ao lado de outros figurantes, Mateus teatraliza o espaço vago das apresentações e é a figura de maior destaque no quadro da morte do boi.


O elemento principal como o próprio nome indica é o boi, portanto, personagem obrigatório. Consiste em uma armação de madeira, sobre a qual estendem um pano grande, branco ou preto, com remendos da cor, imitando as manchas do couro do boi natural. Sob a armação vai o "brincador" (como o chamam). Ao boizinho dão um nome qualquer: Pintado, Malhado (Boi Pampa), etc. A não ser na hora em que brinca, o boizinho mantêm-se deitado. Atende só aos chamados do "Chamador", seu patrão. O "brincador" é mudado, de vez em quando, para não cansar. Há localidades, como em Jaguará do Sul, que existem bois chamados de Surtão ou Jaraguá (metade preto e metade branco), que é um tipo de bernúncia, que brinca de pé com um só personagem, com a mesma bocarra, sem cantoria própria, apenas citada na cantoria dos bichos.


Encontramos também, com a mesma persistência o "Cavalinho" (para homenagear o tropeiro que guiava a boiada) com exceção da localidade de Lajeado, onde não aparece.


A "Cabra", aparece, tão somente nos autos do Rio das Pedras e de Capivara e Conquista.

Há o marimbondo miudinho, com asas e tudo, com cantoria própria, o Cururu, o cachorro, que espanta o urubu quando este vem pinicar o boi doente, o macaco a virar cambalhotas pelo terreiro afora, o urso que comeu o milho do roçado e, sempre recolhendo dinheiro, a Jaruva, o leão, o jacaré e a girafa.


A "Bernúncia"(um tipo de dragão que engole gente) é totalmente catarinense, mas que segundo alguns estudos, seria uma estilização do dragão chinês, trazida para nossa cultura pelos imigrantes. O primeiro registro desse personagem foi realizado na cidade de São José, próximo a Florianópolis, a partir de 1920. A Bernúncia é um bicho medonho, guiado pelos dançadores que ficam serpenteando debaixo do seu corpo de pano. A figura é uma espécie de gigantesca cobra de tecido com uma enorme cabeça de papelão que anda entre os participantes abrindo e fechando sua bocarra, em busca de alguém para engolir. Quem é comido, passa a fazer parte do corpo do bicho, aumentando seu tamanho. Parece estar associada às histórias do bicho-papão ou da cuca que gosta de sair atrás das crianças para comê-las. Algumas vezes é apresentado o Barão, o parceiro macho da Bernúncia, com aspecto maior e mais fantasmagórico. A boca cheia de dentes e o corpo coberto de barba-de-pau presa ao pano dá ao personagem um aspecto monstruoso.


Também encontramos a gigantesca Maricota, que pode ser chamada de Tiroleza em algumas localidades. A Maricota é uma armação de madeira, com uns três metros de altura, tendo por dentro um cruzamento entre a armação que é acolchoada, a fim de ficar sobre os ombros da pessoa que brinca dentro dela. No centro da armação alguns colocam um pau, com o qual o brincador mantém o equilíbrio da figura. O rosto é uma máscara com a fisionomia de mulher, de dimensões exageradas. Os braços são soltos e em uma das mãos carrega uma bolsa. Com os movimentos do dançador, os braços se abrem e, propositadamente, atingem as pessoas. O vestido que cobre a armação é de chita estampada berrante. Das orelhas pendem brincos enormes.

Doralécio nos conta que encontrou em uma encenação do boi em Imbituba outra figura de uma mulher gigante chamada de Saborosa. A cabeça e o rosto eram de porongo. Os olhos, a boca e o nariz eram abertos, forrados com papel vermelho transparente. No seu interior haviam colocado uma vela acesa, de maneira que de longe dava a impressão de que a boneca estava viva, considerando-se que essas brincadeiras são realizadas sempre à noite.


"Palhaços"e "Mascarados" são encontrados nos folguedos de Lajeado. Estes são trajados com roupas velhas, máscaras e bordão. Os mascarados são incumbidos de pedir esmolas aos donos das casas que visitam. Toda a receita arrecadada, muitas vezes, são oferecidas à Igreja local.

O "Doutor", tem funções de benzedor, pois com um galhinho qualquer diz:


"Eu benzo este boi

Com um galhinho de manjericão

O dono da casa

Tem que pagar um patacão!"

Eis algumas letras das cantorias dos trovadores repentistas:

"O meu boi é de mamão!

Coro: É sim, senhor!

Ora bumba, meu boi

Coro: Lá vai o boi!

Ó meu cavalinho

Entra cá prá dentro

Que o dono da casa

Já te deu licença

O meu boi é de mamão! etc...etc..

Ó meu cavalinho

De sela amarela

Não namora as moças

Que elas são donzelas!

O meu boi é de mamão! etc...etc..

Brinca Bernúncia, brinca

Ela brinca bem.

Se não brincar direito

Ela aqui não vem.

O meu boi é de mamão! etc...etc.."

sair pela cidade/Vou usar minha razão/Eu vou mudar esta história
Com o meu boi de mamão/Vou acabar co’esta tristeza/De ver meu povo chorar
Eu quero ver muita folia/Quero ver meu boi brincar

É a maricota dançando na rua/Mostrando que a luta não pode parar
É o jaraguá com a meninada/É o povo unido no mesmo lugar
É o vaqueiro na peça do boi/Aprendeu com a vida não pode errar
Oi abram alas minha gente/Que a bernuncia quer passar

Eu vou botá meu boi na rua/Quero ver meu boi brincar.


A brincadeira aborda um tema épico (a morte e ressurreição do boi). Apresenta a pantomima das investidas do boi, a sua morte, a encenação da cura, envolvendo todos os personagens, culminando com a ressurreição do boi.


A “cantoria” acompanha toda a apresentação cantando versos alusivos às figuras e à dramatização. Os instrumentistas são três, normalmente tocando um violão, um cavaquinho e um pandeiro.

O folguedo do Boi-de-mamão é uma das manifestações mais significativas da cultura popular catarinense. Está presente nos municípios do litoral e principalmente em Florianópolis, Capital de Santa Catarina, onde concentra o maior número de grupos.


UM BRASIL DE MUITOS PAÍSES......


Este é o nosso Brasil, terra de "festança" o ano inteiro, de todos os jeitos e para todos os gostos.

É bumba-meu-boi no Norte e no Nordeste. É Boi-de-mamão no litoral de sol e magia Catarinense, que transforma o povo e as ruas em quadros de pura alegria e exaltação da vida.

Entremeado de culturas, o Brasil é terra de muitos países.....


Lugar de transformação contínua, que nos devolveu em seiva e encantos os corpos que lhe confiamos. Aqui se vive, se canta e se encena a miscigenação das raças, no embalo de esperanças animadoras e iluminadas, que são nossas tradições e costumes e que refletem a riqueza da imaginação de nosso povo.


Um Brasil de muitos países....terra de sons mágicos, ritmos de encantamento, de filhos amados e hospitaleiros, de lucilante seduções e magnificente colorido...Oásis para ambiciosos audazes, onde aportaram culturas diferentes e de desconcertante requinte.


Venha, a mesa está posta! Pratos decorados com sedutoras heranças já estão servidos. Sente-se e desfrute deste maravilhoso arsenal de raízes etnicas, aureoladas de glória e saber profundo.


Bibliografia:

Dança Brasil - Gustavo Côrtes

Folclore Catarinense - Doralécio Soares