segunda-feira, 20 de abril de 2009

Culinaria

Refeição Campeira

Feijão Mexido

O feijão mexido é, normalmente, o aproveitamento das sobras do feijão. Se houver charque e outras carnes, devem ser desfiados ou cortados em guisado miúdo. Frita-se mais uma cebola, um pimentão e uma pimenta verde bem picados. Ponha o feijão a esquentar. Quando ferver, junte os temperos com a gordura e um molho de tempero verde picadinho, e misture bem. Depois de 5 minutos, retire a panela do fogo e misture lentamente a farinha de mandioca, até engrossar o feijão. Tampe a panela e leve ao fogo por mais 10 min, mexendo de vez em quando

Arroz Carreteiro

Os ingredientes: 1/2 kg de charque, 1/2 kg de arroz, 1 cebola, 3 dentes de alho.

A preparação: Aferventar o charque, trocando uma vez a água. Se o charque for caseiro, basta deixar 5 horas de molho. Picar o charque em guisado médio e colocar na panela para fritar. Se o charque for gordo, colocar menos gordura. Esmagar o alho e picar juntamente com a cebola. Quando o charque estiver bem dourado, colocar a cebola e o alho picados para fritarem. Juntar o arroz e deixá-lo fritando um pouco. Colocar água fervendo até dois dedos acima do arroz. Provar o sal e cozinhar em fogo baixo

Charque no espeto

Os ingredientes: 1,5 kg de manta de charque gordo e 1 kg de farinha de mandioca

A preparação: prepara-se de véspera, deixando o charque dormir de molho. Se possível, troca-se a água (quente) uma ou duas vezes durante a noite. Dia seguinte, espetar e assar na brasa, de longe, expondo ao calor primeiramente a parte magra.

A servida: fazer um pirão frio, misturando farinha de mandioca com água fria, sem sal, que é pra tirar o sal do charque. Mistura-se no mesmo prato e é só comer

Mocotó

Os ingredientes: 4 patas de gado muito bem lavadas, 1 coalheira, 2 kg de mondongo, 1 tripa grossa, 1/2 kg. de lingüiça, 1 kg. de feijão branco, 2 colheres de sopa de óleo, 2 cebolas, 4 tomates, temperos, 1 dente de alho, ovos duros picados.

A preparação: Pôr a carne a ferver (de véspera), em água fria, com todos os temperos, até despegar o osso das patas. Deixar de véspera, também, uma ou duas xícaras de feijão branco de molho. Cozinhar o feijão e reservar. fazer um refogado com cebolas, tomates, alho, louro, salsa, cebolinha e aí refogar os miúdos picados e a lingüiça em pedaços. Acrescentar a água em que foram aferventados e deixar ferver bastante. Meia hora antes de servir, juntar o feijão branco. Enfeitar com ovos duros e tempero verde picados.

Puchero

Puchero, sopão com muito vegetal e carne de peito (às vezes com costela e até lingüiça), mas sem tutano e sem pirão, é o prato típico das tradicionais correntinas, muito apreciado pela gauchada fronteiriça após as lides campeiras.

Os ingredientes: 3 kg de carne de peito; 1 rabada; 1 kg de batata doce; 1 kg de batata inglesa; 1 kg de aipim; 6 espigas de milho; 2 couves-flor; 1 kg de abóbora; 1 molho de cenoura; 1 molho de nabo; 5 chuchus; 1 repolho grande; 3 molhos de couve; 6 tomates (sem pele); 6 cebolas; 2 molhos de tempero verde; 2 pimentões; 4 pimentas verdes; 1 kg de farinha de mandioca; 1 kg de lingüiça

A preparação: Ponha uma panela grande ao fogo (de preferência num fogo-de-chão), com água pela metade; 3 colheres (das de sopa) de sal; as cebolas, os tomates, os pimentões cortados em 4 pedaços, as pimentas verdes cortadas ao meio. Deixe levantar fervura. Corte a carne de peito em partes, a rabada na junta e a lingüiça em pedaços de mais ou menos três dedos. Coloque a batata doce, se for grande cortada em 4 pedaços, se for pequena em 2; a cenoura cortada em 2 pedaços; o milho verde quebrado em dois; o nabo cortado ao meio; o chuchu cortado em 4 e o aipim em pedaços de mais ou menos 4 dedos.

Deixe fervendo por mais 20 minutos e coloque a abóbora em pedaços médios e a batata inglesa cortada ao meio. Tenha à mão 3 bacias ou formas onde colocará os ingredientes que deverão ser retirados assim que ficarem prontos. As carnes, os legumes e as verduras, separadas em cada recipiente. Por último, coloque a couve-flor sem o talo, porém não muito desfeita, o repolho desfolhado.

Verifique e corrija o sal sempre que necessário. Quando estiver tudo cozido, retire a panela do fogo e vá colocando a farinha de mandioca lentamente, mexendo sempre, até conseguir um pirão no ponto médio, mais para o duro. Esquente os recipientes e sirva em pratos separados. Está armada a competição para ver quem come mais.

O puchero, um detalhe, entra muito bem assim depois de uma churrascada, quando ninguém mais quer saber de carne. Esta receita é para 12 pessoas, isso se ninguém se distrair e perder a vez.

Mitos e lendas

Negrinho do Pastoreio

Negrinho do Pastoreio

Mitos e Lendas do RS
Antonio Augusto Fagundes

No tempo dos escravos, havia um estancieiro muito ruim, que levava tudo por diante, a grito e a relho. Naqueles fins de mundo, fazia o que bem entendia, sem dar satisfação a ninguém.

Entre os escravos da estância, havia um negrinho, encarregado do pastoreio de alguns animais, coisa muito comum nos tempos em que os campos de estância não conheciam cerca de arame; quando muito alguma cerca de pedra erguida pelos próprios escravos, que não podiam ficar parados, para não pensar bobagem... No mais, os limites dos campos eram aqueles colocados por Deus Nosso Senhor: rios, cerros, lagoas.

Pois de uma feita o pobre negrinho, que já vivia as maiores judiarias às mãos do patrão, perdeu um animal no pastoreio. Prá quê! Apanhou uma barbaridade atado a um palanque e depois, cai-caindo, ainda foi mandado procurar o animal extraviado. Como a noite vinha chegando, ele agarrou um toquinho de vela e uns avios de fogo, com fumo e tudo e saiu campeando. Mas nada! O toquinho acabou, o dia veio chegando e ele teve que voltar para a estância.

Então foi outra vez atado ao palanque e desta vez apanhou tanto que morreu, ou pareceu morrer. Vai daí, o patrão mandou abrir a "panela" de um formigueiro e atirar lá dentro, de qualquer jeito, o pequeno corpo do negrinho, todo lanhado de laçaço e banhando em sangue.

No outro dia, o patrão foi com a peonada e os escravos ver o formigueiro. Qual não é a sua surpresa ao ver o negrinho do pastoreio vivo e contente, ao lado do animal perdido.

Desde aí o Negrinho do Pastoreio ficou sendo o achador das coisas extraviadas. E não cobra muito: basta acender um toquinho de vela ou atirar num cano qualquer naco de fumo.

A Guerra do Contestado

A Região Do Contestado

O Início da Conquista

A Questão Social

A extensa região do Contestado era um verdadeiro paraíso ecológico, secularmente preservada em sua natureza, graças às enormes dificuldades que impunha para penetração do homem branco. As matas muito densas e os escarpados contrafortes serranos eram sérios obstáculos à ocupação, que atraia os portugueses pelo leste e os espanhóis do lado oeste.

Aos poucos, porém, tropeiros, aventureiros e até mesmo homiziados políticos começaram a mesclar-se com os indígenas que habitavam a riquíssima região, em plena harmonia com as matas seculares, os rios de águas límpidas, a fauna variada e numerosa, os frutos e o mel abundantes.

A presença do homem branco foi registrada pela primeira vez dentro de seus limites no ano de 1641. Da sua chegada, da mistura de raças que se encontravam para conviver, surgiu o chamado caboclo pardo, a quem caberia, mais tarde, garantir ao Brasil 30.600 quilômetros de extensão territorial. Essa área, maior que o Estado de Alagoas, foi disputada em litígio internacional com a Argentina e, pela ocupação e posse do nosso caboclo, além da decidida atuação do Visconde do Rio Branco, continuou sendo brasileira.

A divulgação da conquista do território do Contestado motivou a corrida dos chamados coronéis de fazenda à região. Eles passaram a adquirir títulos de posse da Guarda Nacional. Com capangas, agrimensores e recursos materiais considerados modernos à época, os coronéis invadiam os sertões expulsavam de suas terras os primeiros povoadores.

A nova estrutura fundiária determinou o surgimento de uma situação até então desconhecida para o caboclo. Aquele que proporcionou a conquista do território ao país viu suas terras serem arrebatadas pela ganância dos que pretendiam explora-las indiscriminadamente, voltando-se de modo especial para suas maiores riquezas – a madeira e a erva-mate, cultura esta considerada o “Ouro Verde”.

Para agravar ainda mais a situação, o Governo Federal, por questão de segurança e para facilitar o escoamento da produção, determinou a construção de uma ferrovia ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul. Foram aliciados 10 mil operários desqualificados em diversas regiões do país, inclusive presos, trazidos em regime de quase escravidão pelas companhias estrangeiras encarregadas da construção da estrada, com promessas de enriquecimento rápido que nunca seriam cumpridas.

A concessão de faixas de 15 quilômetros, a cada lado do leito da ferrovia, às construtoras estrangeiras agravou ainda mais a situação dos habitantes da região, ampliando o esbulho de suas terras। A questão social tornava-se, em conseqüência, cada vez mais tensa.



Os Monges

A Cidade Santa

A população do Contestado estava desassistida, entregue à sua própria sorte, sem ter sequer escolas e hospitais. Tais condições criaram um clima propicio para a influencia dos monges que peregrinavam pela região, defendendo a necessidade de justiça social, difundindo mensagens religiosas e políticas e doutrinando, com ampla receptividade entre os sertanejos.

O primeiro monge aparece em 1844. João Maria D`Agostini, foi considerado santo por suas capacidades como curandeiro e mensageiro espiritual. O segundo, João Maria de Jesus, já no final do século XIX, exerceu uma nova influencia sobre a população, por seu engajamento político à revolução Federalista deflagrada no sul.

O terceiro, José Maria, surge no principio deste século, quando as tensões estavam ainda mais agravadas na região. José Maria assumiu o caráter guerreiro, mobilizando a população em defesa de seus direitos e organizando as comunidades para o conflito que se estendeu de 1912 a 1916.

Perdendo suas terras e sofrendo a crescente pressão das oligarquias que se estabeleciam, a gente da região começava então uma dura e prolongada guerra.

Foi a luta do sertanejo contra a força estabelecida que mobilizou quase a totalidade dos contingentes militares nacionais, justificou 13 expedições e cerca de 20 mil vitimas, bem como o emprego, pela primeira vez, de aviões em missões militares no Brasil.

O monge José Maria e o povo que o seguia estavam acampados no município de Curitibanos. A imagem do fanatismo religioso justificava a perseguição, entremeada à questão do litígio entre Santa Catarina e Paraná. Foram expulsos e seguiram para os campos do Irani.

Em outubro de 1912 tropas paranaenses travaram o primeiro combate da luta do Contestado, contra a população sitiada em Irani. Morrem José Maria e o Coronal Gualberto, chefe da milícia dizimada, da qual o povo tomou as armas.

A situação havia se radicalizado com o derramamento de sangue. Surgem fanáticos como Eusébio e sua neta Teodora, pregando a ressurreição dos monges. O reagrupamento se dá em Taquaruçú, novamente no município de Curitibanos. A construção da cidade santa é noticia entre os sertanejos e também nos meios políticos e militares.

Em Taquaruçú o povo convive dentro de princípios socialistas, procurando lutar por seus direitos. Mas é visto como ameaça à segurança, em razão das idéias difundidas sobre seu fanatismo religioso e até por mal interpretados sentimentos monarquistas – depois vistos como um simples repúdio à perseguição que lhe moviam tropas federais sob as ordens dos governos republicanos.

O fanatismo, no entanto, está ligado à causa sertaneja, que só vê possibilidades de dias melhores com a intervenção divina. O que justifica a Confraria do Menino Deus e dos Pares de França, como expressões de lideranças na defesa da população perseguida.



Como Surgiu o MTG-SC

Conheça mais sobre o tradicionalismo em Santa Catarina

O MTC (Movimento Tradicionalista Catarinense), foi fundado em 18/05/1973, com Estatutos publicados à página 22 do Diário Oficial do Estado de Santa Catarina, n° 9872, de 07/11/1973, declarado de utilidade pública pela Lei Estadual n° 5941 de 17/09/1981, hoje encontra-se sediado na cidade de Lages, junto ao Parque de Exposições Conta Dinheiro. Em seguida passou a denominar-se ATGESC (Associação Tradicionalista Gaúcha do Estado de Santa Catarina).

O MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho), foi fundado em 29/07/1985, devidamente registrado no Registro de Pessoas Jurídicas em São Joaquim/SC, Livro A - Folhas 145 a 147, sob n° 097 e data de 10/09/1985, sediado no Parque de Exposições da cidade de São Joaquim.

Reunidas em Assembléia Geral conjunta, na cidade de Otacílio Costa, previamente convocada nos termos dos respectivos Estatutos Sociais, RESOLVEM, tendo em vista a Identidade de seus objetivos, fundir-se em uma só Entidade Tradicionalista, coordenadora das atividades das Entidades filiadas, e que sucederá as que se fundem em todos os seus direitos e obrigações, passando a reger-se pelos presentes Estatutos Sociais.

Sob a denominação de Movimento Tradicionalista Gaúcho do Estado de Santa Catarina, com a sigla de MTG-SC, fica constituída uma sociedade civil, sem fins lucrativos e de duração indeterminada, que se regerá pelos presentes ESTATUTOS SOCIAIS e pela Legislação Pertinente.

A Sociedade ora constituída resulta da fusão das Entidades MTC (Movimento Tradicionalista Catarinense), e MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho), já identificadas no preâmbulo e lhes sucederá em todos os direitos e obrigações.

A critério da Diretoria, a sociedade poderá manter escritórios ou filiais em qualquer parte do território catarinense.

O MTG-SC, tem por objetivo congregar os Centros de Tradições Gaúchas, entidades afins, pessoas jurídicas ou físicas e preservar o núcleo de formação e filosofia do Movimento Tradicionalista.

Compete, ainda ao MTG-SC, preservar as expressões Movimento Tradicionalista Gaúcho, Centro de Tradições Gaúchas, Movimento Tradicionalista Catarinense, Associação Tradicionalista Gaúcha do Estado de Santa Catarina, bem como as siglas MTG, CTG, MTC, ATGESC, evitando o uso inadequado das mesmas e sua utilização na denominação de entidades não identificadas com o objetivo do MTG-SC, perante a Tradição Gaúcha do Estado de Santa Catarina.

O Termo Gaúcho e respectivas variações, tal como, é aqui entendido, não significa apenas o natural do Rio Grande do Sul, mas sim o homem do campo das Regiões meridionais da América do Sul, tomando-se por Pátria do gaúcho e origem de sua Tradição à terra, que começa nos pampas da Argentina, se estendendo no Uruguai e pelos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O telurismo resultante, já não se restringe a essas regiões limítrofes, tendendo a espraiar-se por todos os rincões da Terra Brasileira.

Incluem-se expressamente em objetivos sociais do MTG-SC, o incentivo aos esportes, as promoções culturais, o amparo às ciências, à literatura ligada ao campo, e tudo o mais que possa incrementar o amor à tradição gauchesca de Santa Catarina, sem distinção de credor políticos, partidários ou religiosos, inadmitida qualquer discriminação em razão de cor ou raça.

O MTG-SC, terá foro e sede na Cidade e Comarca de Lages/SC, em endereço à Avenida Luiz de Camões - Parque de Exposições Conta Dinheiro.

Os Investimentos do MTG-SC, só podem ser efetuados no território do Estado de Santa Catarina, visando seus objetivos sociais.

O MTG-SC atualmente encontra-se subdivido em 16 (dezesseis) Regiões Tradicionalistas, cada uma sob o comando de seus Coordenadores Regionais Campeiros e Artísticos.

A Estrutura Administrativa do MTG-SC é composta pelos seguintes órgãos: Diretoria Executiva, Conselho Deliberativo, Coordenadorias Artísticas e Campeiras e Departamentos.

O MTG-SC foi declarado de Utilidade Pública pela Lei Estadual n° 7942, de 09/05/90.

O MTG-SC está inscrito no Cadastro Geral do Contribuinte - CNPJ, sob n° 75.439.125/0001-11.

O Endereço atual da Entidade é Avenida Luiz de Camões, SN - Parque de Exposições Conta Dinheiro, Caixa Postal 224, CEP 88520-000 - LAGES/SC. Fone/Fax 049 3225-3671 E 3225-1323

A Entidade conta atualmente com 534 CTGs, 1.866 Piquetes de Laçadores e 26.300 sócios

O Presidente atual é o senhor ÉDIO SCHWEITZER, residente em Palhoça.

O papel dos ctgs

O papel das nossas entidades tradicionalistas, o rumo da tradição.

Por Homero Franco "Mano Terra"
Pesquisador, poeta e escritor - Florianópolis, SC


Não é a primeira e não será a última vez que as sociedades autônomas serão invadidas em seus valores. A prática é antiga. A história de Jesus Cristo está associada à invasão da Palestina pelos romanos. A América foi invadida pelos europeus a partir de 1492. A revolução industrial no século XVII invadiu os sistemas mercantis de quase todo o planeta. A partir de 1945 o Brasil mudou de invasor: foram os Estados Unidos, como beneficiários da nova distribuição dos mercados no após-guerra, que impôs-nos padrões e valores que nunca foram nossos. As grandes redes de televisão, ao privilegiarem determinados tipos de programação cultural (sertanejo, country, axé), invadem as nossas vidas e forçam a adoção de padrões de comportamento e consumo. A globalização, desde o início da década de 1990, é a mais avassaladora campanha de internacionalização do homem.

A quem interessa a modelização, a padronização? Precisa responder? O rock'nrol hoje é um ritmo universal, ao lado do cheesburger, da cocacola, jeans e, pasmem, da língua inglesa. Nunca um único idioma foi tão falado no mundo e nunca uma única moeda (o dólar) foram tão usuais como atualmente. O que significa isso? Precisa responder?

A sistemática ausência e omissão dos governos quanto à cultura, estimula a modelização e a padronização. Não havendo o estímulo governamental, a cultura se obriga a caminhar lado a lado com o lucro, sendo entregue aos mercadores culturais, para quem lucro é lucro, sem nenhum compromisso com os territórios sagrados.

É preciso, também, entender o que seja processo cultural e o que seja tradição. O processo cultural anda mais depressa, se adapta, evolui, acompanha os avanços tecnológicos e filosóficos dentro de uma década. A tradição anda muito mais lentamente. Uma breve adaptação em uma tradição demanda um século. Sempre que adaptada ou alterada dentro de uma mesma geração, deixa de ser tradição.

No caso da chamada cultura gaúcha, precisamos entender o que se passa e o que virá. Há uma parcela da nossa gente que reclama da excessiva regulamentação: "há mais 'não pode' do que 'pode'", dizem os reclamantes. Quanto à tradição, não há dúvida que os regulamentos devem ser mantidos, senão dentro de uma década haverá invernada artística de muito cetegê dançando o maçanico de saia justa e calça jeans.

Até a nossa vaneira, que não é nossa, é cubana, mas pertence aos nossos valores com seu padrão rítmico, já está contaminada por estilos alheios a ela por força dos mercadores culturais. Imaginem que virá por aí.

O rodeio crioulo, outro de nossos tradicionais valores, já mistura sertanejo, country, tourada, futeboi, permite a exibição de sons de alta potência sem nenhum compromisso com a sua festa e os seus valores. Tudo por dinheiro...

Há que reconhecer, para não sermos radicais, que o chimarrão evoluiu da chaleira preta para a garrafa térmica, do fogo-de-chão para o fogão ou fogareiro a gás ou elétrico. Adaptou-se para poder ser consumido por mais gente e mais rapidamente. Mas sempre haverá um galpão em alguma entidade tradicionalista de respeito, que manterá o fogo-de-chão fumegando e, junto às brasas, a velha chaleira preta, para que geração após geração a sociedade tome conhecimento da origem daqueles valores. Diante da fome mercantil de alguns maus conjuntos ditos gaúchos, é de se perguntar: a vaneira será preservada?

Gostaria também de recuperar algo em torno da expressão "tchê", também muito usada por conjuntos musicais que nem honram a expressão. O termo é indígena, se escreve originalmente "ché", com pronúncia fechada 'ê' e é um patrimônio lingüístico a ser preservado. Tanto que em várias regiões do sul do Brasil sua pronúncia é brasileiríssima ("xê"), sem a presença do sotaque castelhano. Aos mocinhos deturpadores, é preciso dizer: isso aqui não é onda "axé", que dá e passa.